quarta-feira, 29 de setembro de 2010

E pensar
que seria pretérito
se a pretensão
não fosse pelo futuro
de outro passado.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Números Fétidos

Talvez tudo seja
quantificável.
Quando comecei a urinar
cinco vezes a mais por dia,
fiz isso cinco vezes a mais
em minhas calças.

Por isso
deixei de dormir
e tenho evitado
cagar.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Dentre castanhas

Me carece essa vontade,
tão distante quanto o horizonte,
comum como a esfera.

Você acreditaria
se eu dissesse
que hoje, de olhos fechados,
senti o trigo crescendo
ao meu lado,
calmo,
sem ímpeto em ser.

Que conforto da cor do mel,
distanciando se da terra,
distanciando me da terra.

Deviam passar alguns pássaros,
pois disparavam notas
como as vozes
do centro da cidade
que impedem meu descanso
como cada palavra que eu
pronunciei.

Roçava em mim
aquele caule áspero
que me lembra a saudade
e ao mesmo tempo
o calor.

Sempre foi assim,
dual e impetuoso,
um desejo
que nos faz rir
quando encostamos em
alguma ferida
como a nossa.

Não foi surpresa alguma
quando abri os olhos.
Não há trigo,
apenas delírios cobertos
sobre meu colchão.

Inexiste um propósito
em escrever,
digo apenas
que de olhos fechados
estive em um lugar
melhor.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

In Verbis

Esses problemas,
reclamo aos demais
que desarmados de roupas
e dilemas
prescreveram bulas
de soluções.

Desarmados
de minhas roupas
de meus dilemas.

Sofismados
por sequências numéricas
e revoluções factuais,
sentem-se
castrados
perante
a sensibilidade.

Meu erro
tem personalidade
e se veste
com minhas melhores roupas,
as de domingo.
Dialoga com o mundo
e se revolta
ignorando meus olhos.

Pagãos e cristãos,
todos lado a lado
dacaindo pari passu
e sobro eu
agnóstico sobre o muro,

in verbis:
decaindo solitário.
"agosto passou impune,
foi uma avalanche atrasada de dor
que só culminou suas fatalidades
nos primeiros dias de setembro"

-O turista

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

esses momentos
começam
quando seus cigarros
molham
e o que preciso
para um suspiro
é o que mata
pelo uso
ou desuso.

é duro acreditar
que o melhor ar que respiro
traz 4.700 substâncias
que fazem meu prazer.

e a felicidade
não é complexa.

De rima derrama

Eles gritam no andar de cima
e gritam ao meu lado.
Todos castrados pela luxúria,
estrondeante cadafalso.

Enfileirados,
vão à forca.
É o método
mais lindo de viver.
Atordoados,
despediram-se
das perguntas,
do sofrer.

Eu calo,
não proclamo,
pois sentir
é desesperar.
Em meu deserto
só há chuva
quando ouso
contemplar.

Falar deve ser claro.
enquanto estiverem
não estarei

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Um pouco menos que liberdade

Vi cães enxarcados
se enforcando
com minhas roupas

em uma praça famosa
cheia de sonhos
construídos de areia.

Eles gostariam
de partir,
partilharam a morte
como caridade.

Sem ar,
atordoei.
Jamais se deve confiar
em um espelho translúcido
quando transcende de mim
o magnetismo
que faz continuar.

O chão era sangue
e afundar
pareceu apenas seguir
alguma teoria de Hilbert.

É tudo tão certo,
essa não é minha vida
e minto se disser
que aqueles cães
escolheram morrer.
Esse sol
nos matém acordados,
nos faz esquecer
do que foi
real.

Se nos sentimos
bem,
não nos recordamos
que nascemos
antes de Adão.



Contrários

Nos armamos
da resistência.
Evitar o fim
é enganar?

Entre as mentiras
cresceu dentro de mim
concretamente
essa humanidade.

Surge o pecado

O sol não vai
se preocupar em brilhar
se às mãos de desejo
os cabelos escorrerem.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Adoradores de Concreto

Vejo hoje
como minha abstração
não é bem-vinda.

Eles urgem
pelo rígido.

Nesse quadro
só me resta
retrair.

Engraçado.

Com minha faca
virada para o abismo,
todos sorriem
e em silêncio
,complacente,
conto a piada
que é calar.

Olho você
e percebo,
meus sentimentos
são como prostitutas,

independem
do desprezo social
para atingir a perdição
e ainda
satisfazem outrem

"Latinamente Só"

"É temporário",
ele disse
e a porta do trem se fechou.

Tudo devia ao ser,
não era possível
negar
mesmo enquanto os dedos
tocavam a melodia
da falta.

Quando o salão
se esvaziou
pode-se ouvir
os passos na rua,
bom
o salão sempre esteve
concisamente vazio.

É temporário,
aquilo que foi perene.

Na miséria
eles pularam de mãos dadas
naquele rio,
condenado e condenaram-o
por ineficiência
das palavras pequenas.

Tão cruel
foi receber esmola
durante os anos negros
da economia ocidental,
que acidente.

Por isso
hoje escrevo,
como uma bibiana
sem terra.