terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Minha linda Curitiba

é um tremendo poço de fudidos,
o bom e velho lar.
desabrigada pelo sentimento,
minha cidade fantasma
nunca soube
sobre compaixão.

desagarrados vultos sem-teto-sem-tato
em pequenos cômodos mentais,
vão em frente, não olhem para os lados.

vocês e suas sombras,
eu
nada.

cabisbaixo
eu dentro de todos vocês
somos migalhas
uns nos bolsos dos outros
procurando o calor de uma mão
que jamais poderemos reconhecer
sob a ausência da luz
que nem em outro continente
podemos conceber

grandes conterrâneos,
eu e você,
suturando a oscilação,
não é a temperatura que devasta,
que nos cria.

nós,
refugiemo-nos.
eu em mim mesmo e vice-versa,
pois afinal,
as outras araucárias só nasceram
do reflexo da minha semente

e você
nunca existiu
se não sob meus olhos
à minha existência.

sábado, 7 de janeiro de 2012

Em três dedos

"Não derrube o violão"
foi dito
enlouqueci
sofri
a fumaça chegou a tomar conta
do salão
os mesmos quatro acordes
e talvez deus ou Deus estivesse ali

transgredi
pensei e chorei
em um instante
senti a dor do mundo
e cansei de ser o mesmo
chorei
mas mantive a máscara,
dormi.

Deixei o toque,
esqueci-me,
procurei por fora
o quê já tinha achado.

Não havia dúvida,
eram dedos,
eram braços,
era o alcance de tudo que procuramos
em anos de vício.

Como fomos chegamos
em acordes bíssônicos
sem divergências,
sem medos de cairmos.

Cansamos de correr,
metalmente e fisicamente
e tudo estava certo.

Ou parecia certo
achávamos que era o certo
ou que era o errado
mas no momento certo
no lugar onde deveriamos estar
e uma certa alegria
acompanhada de agonia
nos acompanhava

Naquele momento certo
com as pessoas certas
os cigarros corretos
e as cervejas perfeitas
geladas como nossos corações
corações solitários unidos
por um ideal
passar sentimentos que precisávamos
e o violão caiu.

O ato de pensar
não repetia,
adormecia
cagava sofrimento nos meus dedos
só podia escrever
não raciocinava
não sabia
que a dor não era minha
era sua,
nossa
o violão nunca caiu
mas e eu?
eu

nunca levantei.

A desistência

Cantam galos,
cantam pasmos,
cantam todos demasiados.

Nada, talvez tudo.
Seja como for,
deluzes ou transparecendo,
seremos deixados
todos para nós mesmos.

Partidos, de olhos fechados
olhando em mim,
em ti.

Olhando.

Era aquela vez
era tua vez
talvez a minha

Era turbulencia
era violencia
maldita,
ilusão
perdida no momento da dor
que senti a sua ilusão

cantam passáros
canta água
não canta a vida.

Lembro de quando
nasci
era ou
você?

Cansados, todos estávamos,
entregues,
ou eu em você.

Tão,
era demais para meu vázio,
transgressionismo,
paisagismo,
palavras

tudo de mais
só para ti.

Pairava,
doía,
dançava véu de calor e frio de uma só pessoa
a fumaça de um ou dois
a dor de três ou mais
cada tempo,
cada espaço
tem seu turno
apenas o cansaço prevalecia
as olheiras amantes dos meu olhos
xingavam hipnósis de lapsos mentais
nasci?
distorci?
creiamos que vivi
sem nada
sem sentir
mas estava lá
pra um ou dois

eu estive lá.
Lá estou,
de lado,
relaxado.

Como sou,
perto de você
nada.

Cantas tão alto,
surda,
dói.

Eu cantarólo,
como sou,
quieto

e nada

perto de você.

sou eu.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Pluralismo singular.

Quantos eu's se foram
em tantas frases.

As mentirosas,
as corretas,
as vazias,
as incompletas.

Os pontos,
as reticências,
os desenhos,
o vazio.

Se quem fui soubesse
me diria o quê o fim traria.

Não perdido no pluralismo,
seria todo,
seria Eu.