terça-feira, 17 de março de 2009

Títulos são despresíveis.

Eu sou só um propósito, apenas uma história, um desenho puxado pelas cordas da direção desse sentimento. Minhas cores tem grande força, podem apagar o fogo no sétimo céu.

Era noite de dezembro, o verão quente pairava sobre as gotas de meu peito. Estava cansado, havia carregado garrafas a tarde toda e já começava a sentir o gosto da embriaguez, era realmente doce. Meu último gole me chamou atenção para um mercado de bairro, aqueles onde só anciões costumam fazer suas compras rotineiras. Me encaminhei até sua porta, soltando fumaça pelos olhos, encontrei a porta fechada e consegui não perceber. Acabei beijando a entrada e ganhando um engresso como atração principal do circo da cidade, com direito a olhares e pesares. Lá todos me encararam, acho que eu realmente devia estar irônico pois ninguém deixava de me olhar por um minuto com aquela face dividida entre um sorriso camuflado e um despreso acentuado. Voltei a mim e me lembrei que estava sem bebida, me dirigi a estande de gostosuras para maiores de idade e escolhi minha garrafa de vinho favorita, 6R$, me senti ofendido de ter que pagar aquilo depois de dar a eles um show inteiro. O balcão estava vázio então não me demorei entreguei a garrafa para o tal balconista registrar a venda, achei estranho ele usava os óculos apoiados na testa e ainda assim conseguia ler oque digitava. Paguei, saí do mercadinho e fiquei sentado no muro que delimitava os arredores da loja, acendi um cigarro e comecei a degustar do meu tinto. Realmente estava quente, mas o movimento da rua estava refrescante. Apesar de ser um mercado de bairro, era de um bairro movimentado e a duas quadras tinha um bar que parecia interessante. Na metade da garrafa, quando já tinha arremessado o saco de pão ,que a aquecia, para o terreno baldio do outro lado da rua, ví uma figura arrumada com vestido rígido e sapados bem lustrados de saltoo baixo. Não conseguia avistar sua beleza ou falta dela então fiquei encarando a enquando ela se aproximava. Quando pude reconhecer realmente achei impressionante, uma garota em cinza, quase uma beata de tão sagrada e com ar lindo,suave e calmante. Aquele brilho inocente mas ainda assim manipulador que você as vezes reconhece na mãe de algum herói de livro orientail do milênio anterior à cristo. Meus olhos estavam quase a jogando no chão, então fingi que estava olhando o out door que penetrava suas costas. Obviamente foi uma tentativa frustrada pois consegui ver um brilho branco no canto de sua boca rosada de traços firmes. Fiquei encabulado. Não entendi, nunca fui de me preocupar com alheios. Ela passou do meu lado me olhando ,parecendo desvendar minhas intrigas mais profundas, então entrou no mercadinho. Fiquei a observando, estarrecido, impressionado e talvez até pálido [porém este devido meu almoço à 13hrs anteriores]. Acabei minha garrafa enquanto ela estava lendo as revistas que ficavam ao lado do freezer dos sorvetes. Levantei em passos leves, enquanto meus dois olhos procuravam linhas sobre as quais se apoiar. Entrei na loja mais uma vez, desta sem tentar aparecer. Reclamei me mais uma garrafa e um maço enquanto ela comprava uma revista a pintava aquela loja de maneira que até comecei a achar o merduncho do balcão um homem cheio de algo, mesmo sem saber oque achei encantador. Ela pagou  porém ficou mais um tempo olhando as coisas da loja, não havia entendido, não naquele momento. Saí do estabelecimento após até agradecer ao dono do mercado. Olhando para o chão, conversando comigo mesmo, me perguntando porque não havia falado com aquela figura leve e confiante, caminhei até aonde tinha acabado a outra garrafa. Sentei me mais uma vez no mesmo lugar, olhei para a lua ela não parecia muito feliz, parecia não ouvir um bom som a muito tempo. Passei a mão em minhas maçãs da face, minha pele realmente estava fria, estava mergulhado agora em pensamentos sem direção provavelmente pelo efeito do alcool. Senti algo em meu ombro direito que estava até doendo,por ser lá onde tenho guardado minha boa vontade nos últimos 19 anos, pensei ser algum inseto então nem me importei, pois oque ele poderia fazer? Então senti de novo, agora mais como o toque de um dedo, foi então que me virei. Lá estavam, os olhos pelos quais havia procurado todo minha vida, a doçura decidida, paciente e pacífica. Sua voz lírica me pediu um cigarro e pronunciou o encanto da vida. Falei que só tinha classic, ela disse que eram seus favoritos e me encantou. Nunca mais me sentei em muro algum, em esquina alguma, somente em sua alma,doce e suave.

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