domingo, 6 de dezembro de 2009

Mais rápido

No escuro do ponto ônibus
com a sombra daquele homem
e seu casaco
cortando com uma tesoura de jardim
o anel de noivado
e com sangue escorrendo
por seus sapatos
que com todo o peso do corpo
cobram dois salários mínimos
para sustentar a vida passageira
e corredora de esquinas e ladrilhos
por trás de todos os sonhos escondidos
de passados e retrogressões mentais
sem jeito nenhum de perdão ou passagem
já que o juri funciona durante os feriados
e nunca mais o calendário se mexeu
depois do acidente russo
nas ruas de números ímpares
e pesadelos constantes
sobre agulhas e outras coisas
perfurando perpetuamente
a pele de todos que saem
às ruas para estabelecer
outro nome à venda predestinada
enquanto na verdade ninguém
pertence ou chega a pertencer
a não ser os que perdem altos
e tudo que possa ser substancial
e ter qualquer coisa
de posse ou outro verbo intransitivo
já que as coisas que transitam
acabam chegando ao fim
como as coisas que estão paradas
que já conhecem o destino
pelo equilíbrio que nunca passará
nem se acabarem chocadas
com vestidos vermelhos e altos saltos
numa esquina na rica periferia
das cidades dos anjos
que voa sem localidade
nos céus invisíveis
pelo norte do sapato
que agora já está vermelho a horas
e ninguém verá,
pois é tarde e nunca mais vai amanhecer.

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