sexta-feira, 26 de junho de 2009

Coisas que só voltam à mente quando são quatro da manhã.

Me lembro bem, eu era jovem e estava degustando da aurora das sensações. Era tudo tão explosivo, como 12 ave marias me salvando do pecado que é o tédio. A noite vinha chegando e eu passara a tarde, pela primeira vez, na praça perto de casa tomando meu primeiro porre. Grata iluminação, a única que me fez perceber e agradecer por eu não estar morto. Foi uma garrafa de algum coquetel, embalagem branca, garrafa comum de plástico e um líquido viscoso e rosado. Lembrava até o fluído da vida, que Deus o tenha. Estava com os olhos pregados, meus sentidos iam aflorando a cada gole. Os movimentos de rotação e translação se tornaram excessivamente sensitíveis. Tempos que não voltam mais diria o arrependido, mas isto não vem ao caso pois a história é outra. Cortando os descobrimentos de uma criança vamos ao ato pricipal. Cheguei na porta da minha casa e resolvi, por puro gosto, (caro amigo se você não sabe apreciar uma boa bebedeira diária você não conhece este gosto então não perca seu tempo lendo o resto) tomar algum tempo para acertar a chave na fechadura. Extasiante! Entrei e deixei meu casaco na janela. Este estava adocicado pela essência do acool e da nicotina, em minha humilde opinião melhor do que os franceses. A casa estava calada exceto por alguns murmurinhos mudos e cautelosos, achei que fosse coisa do vizinho e me dirigí ao meu quarto. Deitei e acho que apenas meus olhos não giravam. Coloquei um bom Volk do Dylan pra aproveitar essa delícia que era estar livre da opressão paternal e me sentir um homem! Acreditem eu ainda sou cheio de merda assim. Comecei a pensar em opiniões familiares sobre estes atos juvenis e inconsequente que poderiam perpetuar um futuro perdido. Digo mais, concerteza essa guerra santa contra garrafas não me levaria ao paraiso. Afinal eu me amo e existe lugar para o egoísmo nesse local utópico escondido por idealizações? Voltemos a história. O disco havia acabado e aquele chiado, aquele que funciona como um calmante sonoro, musicoterapia ou algo do gênero, era a única coisa que tomava lugar em meus ouvidos. Passou um, dois minutos, e ouvi. Era um tipo de respiração ofegante que com 12 anos de idade você não tem 'conhecimento de mundo' para entender. Sentei me em minha cama, o efeito do alcool já atenuara se e eu começava a voltar a minha sordidez sóbria. Comecei a ignorar meu calmante e aquelas expirações exageradas começaram a ser tudo que meus sentidos captavam, como se eu voltasse ao estado ébrio e um ar expelído com muita força me circundasse. Era o inferno. Voltei ao mundo terreno e percebi que não estava sozinho em casa. Abrí a porta com cautela e medo de me descobrirem. Comecei a cruzar o corredor dando toda minha atenção ao som da minha epiderme perdendo o contato com o chão e de novo o retomando. O barulho vinha do quarto de meus pais. Parecia algo enfurecido, eu era jovem e ainda assim não era estúpido. Eles estavam fazendo aquilo. Dei um sorriso mudo que apenas ecoou em meu interior, "Eles estão trasando! Hihihi.". Voltei para o quarto tranquilo, sem temor algum. Retomei a posição inicial de cabeça e travesseiro unidos pela gravidade. Estava feliz pela idéia de ter chego tão perto deste ato tão esperado e que na época parecia tudo e inalcançável. Após algum tempo aguardando o sono, lembrei me. Meu pai estava viajando. Não é algo que se possa explicar, o que passou por minha cabeça. Se eu fosse um beato isto seria como descobrir que o Papa havia molestado minha irmã, mas como não sou, foi simplesmente um ato de desacato a minha inocência que já começara a se extinguir. Resolvi ignorar o ocorrido e fui ver televisão, desenhos sempre destroem todas nossas idéias e põe no lugar destas imagens cômicas. Após dois episódios de algum programa que não me lembro, já não existia mais adultério em minha mente. Eu estava puro outra vez. Assim seria se isto fosse uma novela, porém percebí um barulho de porta destrancando. As lembranças voltaram a batucar em meus neurônios. Agora o pior. Minha santíssima mãe saiu de seu aposento com sua melhor amiga. Com a maior naturalidade passou por mim e foi abrir a porta para a amante sair. Confesso que sempre tive uma queda por ela ( Se percebeu um caso de ambíguidade por favor não seja estúpido de pensar que eu sentí alguma atração por minha mãe, não sou um porco.), mas não vem ao caso. Importa mesmo é dizer o que minha progenitora disse, "Estávamos jogando um jogo". Amém.

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